Data/Local
1948/1969 - São Paulo SP - Período Alfredo Mesquita -
Fundação em 2 de maio, no Externato Elvira Brandão
1969 - São Paulo SP - Anexada à Escola de Comunicações e
Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP
Histórico
Fundada por Alfredo
Mesquita, ocupa uma posição estratégica na formação técnica e
estética de diversas gerações de artistas cênicos em São Paulo.
Alfredo Mesquita, pertencente à influente família
paulistana proprietária do jornal O Estado de S. Paulo, está, desde a
infância, ligado aos acontecimentos culturais. Estuda na Universidade de São
Paulo - USP, cria em 1941 a revista Clima, em 1942 a Livraria Jaraguá, e,
no ano seguinte, o Grupo de
Teatro Experimental - GTE. Em 1936, coloca em cena Noite de São
Paulo; em 1938 é a vez de Dona Branca; e, fechando essa trilogia, dirige,
em 1939, A Casa Assombrada, três criações amadoras centradas sobre
reminiscências da vida paulistana do final do século XIX, com elenco formado
por integrantes da alta sociedade.
Entre 1935 e 1937, estagia na França com Dullin e Baty.
Esses encenadores fazem parte do Cartel, movimento que reúne ainda Pitoëff e
Jouvet, e cujo ideário artístico tem como referência maior Jacques Copeau, que
advoga absoluto respeito ao autor dramático, uma encenação rigorosa de conjunto
e um perfeito acabamento de cena, expresso em cenários e figurinos de bom gosto
e minuciosa observação dos detalhes de época.
Os esforços do GTE em prol de um teatro de apurado
acabamento artístico são recompensados com a fundação do Teatro
Brasileiro de Comédia - TBC, numa iniciativa do empresário
italiano Franco Zampari.
Estimulado Alfredo Mesquita cria a Escola de Arte Dramática - EAD. A aula
inaugural, proferida por Paschoal Carlos
Magno a 2 de maio de 1948, consolida o espírito modernista de
que ela irá se revestir.
A Escola inicia suas atividades em regime gratuito no
período noturno em salas cedidas pelo externato Elvira Brandão. Uma tradição na
EAD é a sopa servida a todos antes das aulas, solução para a falta de tempo
daqueles que vinham direto do trabalho. A primeira turma, selecionada através
de testes de aptidão, é composta por 37 alunos e entre os primeiros professores
estão Vera Janacopoulos (dicção e impostação da voz), Chinita Ullman
(mímica), Cacilda
Becker (comédia), Clóvis Graciano (cenografia), Décio de
Almeida Prado (história do teatro) e Alfredo Mesquita (drama).
Em 1949, a Escola é transferida para o terceiro andar do TBC, onde permanece
alguns anos. Os professores começam a receber somente após 1951, quando a EAD
obtém uma primeira e irrisória verba do Estado.
A Escola ocupa, ainda, dois diferentes edifícios: um
casarão na Rua Maranhão e, ao longo dos anos 1960, as dependências do Liceu de
Artes e Ofícios.
A EAD é a primeira escola de teatro fundada no país segundo
um modelo ideológico e artístico comprometido com o modernismo cênico, marcada
por estrita disciplina interna, que sempre fomentou a prática secundada pelos
estudos teóricos. Uma inscrição irreverente - "teatro é duro!" -,
colocada acima de uma das portas, adverte que ali é local de trabalho e grande
dedicação. Ao completar 20 anos de atividades, é incorporada à Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP, na condição de
colégio técnico, marcando o fim da era dominada por Alfredo Mesquita.
Em suas diversas fases, lá trabalham como professores
muitos profissionais de teatro, entre os quais Alberto D'Aversa,
Aída Slon, Antunes Filho,
Gaston Granger, Gilda de Melo e Souza, Gianni Ratto,
Haydée Bittencourt, Heleny Guariba, Leila Coury, Mariajosé de Carvalho, Mylène
Pacheco, Olga Navarro,
Pedro Balaz, Renata Pallottini, Roberto
Freire ,Augusto Boal, Ruggero
Jacobbi, Sábato
Magaldi, entre outros; além de diretores encarregados das montagens
finais, tais como: Antunes Filho, Ademar Guerra,
Gianni Ratto, Maurice
Vaneau, Alberto D'Aversa, José Rubens
Siqueira, Roberto Lage, Francisco
Medeiros, Terezinha Aguiar, Rubens Rusche, José Eduardo
Vendramini, Luís de Lima e
muitos outros.
Ao longo de sua história, constrói invejável folha de
serviços ao teatro brasileiro, formando atores, cenógrafos, críticos,
dramaturgos e diretores. Dela saíram nomes de relevo incorporados ao
profissionalismo e até mesmo grupos completos, como a Royal
Bexiga's Company ou o Pessoal do
Victor. Entre outros, formaram-se pela EAD: Monah Delacy, José Renato,
Armando Paschoal, Xandó Batista, Floramy Pinheiro, Jorge Andrade,
Emílio Fontana, Bertha Zemmel, Francisco Cuoco, Miriam Mehler,
Assunta Perez, Ruthinéa de
Moraes, João José Pompeo, Myrian Muniz, Ilka Marinho
Zanotto, Sérgio
Mamberti, Sylvio Zilber, Edgar Gurgel Aranha, Aracy Balabanian,
Silnei Siqueira, Nelson Xavier, Yara Amaral,
Rodrigo Santiago, Paulo Villaça, Celso Nunes, Alberto Guzik,
Sônia Guedes, Zanoni Ferrite, Analy Alvarez, Umberto
Magnani, Antônio Petrin, Bri Fiocca, Cláudio Luchesi, Ney Latorraca,Esther Góes, Jandira
Martini, Carlos
Alberto Soffredini, Cristina Pereira, Walter Franco.
Em seu repertório figuram autores e estilos de todas as
épocas, em montagens muitas vezes escolhidas em função de sua complexidade
cenográfica e de caracterização, propiciando aos alunos um aprendizado
intensivo. Dos trágicos gregos aos elisabetanos, do teatro clássico francês aos
realistas do século XIX, o repertório inclui ainda algumas encenações pioneiras
no país, como A Exceção e a Regra, de Bertolt Brecht, em 1951;Esperando
Godot, de Samuel Beckett, e O Anúncio Feito a Maria, de Paul Claudel, em
1955;Ubu Rei, de Alfred Jarry, em 1958; além de montagens de grande porte,
como Macbeth, de Shakespeare, em 1962; Teatro Cômico, de
Goldoni, em 1958; Na Festa de São Lourenço, de José de Anchieta, em
1960; Os Persas, de Ésquilo, em 1961; O Burguês Fidalgo, de Molière,
e As Alegres Comadres de Windsor, de Shakespeare, em 1968.
No depoimento do crítico Paulo Mendonça, que também foi um
de seus professores, "a expressão 'elevar o nível do teatro' - melhorar a
formação técnica e cultural dos que a ele pretendiam dedicar suas vidas - pode
parecer, aos moços de agora, pretensiosa, quem sabe de intenção um tanto
elitista. Na época não era nada disso. O nível do teatro precisava mesmo ser
elevado, em termos de repertório, de gosto, de mentalidade, de qualidade da
maioria dos autores, atores, diretores, cenógrafos, críticos etc. (...) Mas
estava na hora de mudar, de atualizar padrões, de ousar, de situar nossa arte
cênica à altura do que se fazia nos centros mais adiantados. Depois viriam as
condições para projetar nossa identidade nacional. (...) Educava-se o espírito
e educava-se o corpo dos alunos. Teatro é duro. Não basta ter jeito, nem mesmo,
em certos casos, talento: é necessário saber também desenvolver o que eu
chamaria, à falta de melhor expressão, uma consciência teatral ampla e
solidamente fundamentada"
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